Oprah Winfrey disse: "Finalmente percebi que ser grata ao meu corpo era a chave para eu me amar mais."
Eu sei que sou bela e sei que sou desejada. Isso pode ser uma faca de dois gumes. É bom, eu não nego. Sou alimentada pelo desejo alheio. E é esse desejo que me torna mais bela. E é o fato de eu me tornar mais bela que sinto necessidade de espalhar amor aos outros.
Sei que nenhuma mulher se equipara em beleza a mim, mas consigo reconhecer as que possuem minha influência em seus nascimentos. A constelação queimava no céu na data de nascimento de algumas mulheres, minhas filhas mortais, digamos assim.
Cachorros reconhecem-se cheirando os rabos um do outro. Neste caso, eu consigo ver os rabos masculinos (e alguns femininos, mais discretos) balançando impacientes por uma dose de atenção dessas mortais. Causa de discórdia, causa de briga entre as nações, como no caso de Helena de Tróia. E, por vezes, causa de amor eterno, basta um empurrãozinho.
O interessante é que por ser um jogo divertido, os cobiçadores entretem-se com a luta por chamar atenção. E é nesse jogo que eu encontro minha diversão. E é nesse ponto que sinto por Sapho.Ela sofre tanto por amor que fui obrigada a oferecer-lhe vida eterna, até quando ela quisesse, claro. E ela aceitou.
Poesia de Sapho:
"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)"
Ela escreveu essa quando percebeu que Atis, sua favorita em sua escola, estava apaixonada por um rapaz. Gosto de Sapho e amaldiçoei Atis por não ama-la como Sapho merecia. E nessa cidade, apesar de tudo, Sapho diverte-se e sofre por aqueles que não conseguem amar... sua produção de poesias aumentou intensamente, com tanta matéria-prima, mas ela não quer me mostrar nada ainda. Suas preferidas são aquelas que o amor acontece a primeira vista, ou quando não há reciprocidade na atração ou paixão.
E hoje, pensativa, penso se o amor seria somente motivado pela beleza... ou pelo fato de acharmos que amamos o que não podemos ter... até ter.
Um dia, cansada da vida do Olimpo, enjoada de ter que observar sacríficios, conceder graças, ter homens (e mulheres) jogando-se aos meus pés por causa de minha beleza, eu, Vênus (ou Afrodite), resolvi vir a São Paulo. Aqui descobri que nem todas as intrigas e aventuras do Olimpo poderiam conceder-me tamanho prazer do que esta cidade. Feliz por essa descoberta, chamei Sappho, poetisa, para escrever sobre a cidade e viver as corretas transgressões do dia-a-dia. E assim, começa mais uma aventura...
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Rainy night... Sunny day
"Se você julgar as pessoas, não terá tempo para elas", disse Madre Teresa, certa vez. Essa mulher foi mais do que Zeus jamais foi para toda Grécia. As vezes, até mais do que os mortais mereciam...
Bem... só sei que o Olimpo pode ser a chatice que for (não estou contando noites de festa, ou comemorações) mas tem uma vantagem diante desta terra: não alaga.
Uma das coisas que mais percebo é como cai água do céu sobre essa cidade. E como pode alagar tanto. Outra coisa que percebi logo que cheguei é que os mortais realmente gostam de seus carros. Bem, eu também gostaria se minha vida dependesse de entrar dentro dos coletivos gigantesco, entulhados de pessoas que se espremem, e que a maioria dirige-se para um lugar que detestam executar um trabalho que execram, somente pelo vil metal, que em muitos casos serve somente para que eles sobrevivam, não vivam. Ei, não estou aqui para julgar. Cada um com seus problemas. Ser bela e antropóloga é o meu. Ser mortal e pobre, o de todos os outros.
Mas, voltando ao tópico, o Olimpo não alaga. Zeus não permitiria jamais ver seu lar, pelo qual é responsável alagando.
Outra constatação: a Grécia nunca alagou, apesar de todos saberem que Poseidon não se incomodaria nem um pouco se isso acontecesse. Mas Zeus não permitiria pelo simples fato que a beleza de sua terra feneceria, e todo o seu povo daria mais trabalho para ele. As mulheres perderiam sua beleza e os homens, seu vigor. Um povo cansado, com sua auto-estima reduzida, é um povo quase derrotado. Fraco. Corruptível.
Por isso não entendo qual a vantagem de permitir que a cidade alague. Não é um desastre natural, como acontece em alguns locais do mundo. É um problema pontual. O equivalente a Zeus dessa cidade simplesmente não vê o que acontece com seu povo.
Repito: não estou aqui para julgar, cada um com seus problemas. Afinal, eu me teleporto e posso voar. E meu negócio é diversão.
Só que tem algo que perturba meu ser e minha ordem na condição da maioria dos mortais. A partir do momento que você tem um povo cansado, pobre, corruptível, você tem pessoas que buscam diversão em algo doce, que alivie as tormentas diárias e eleve a auto-estima. E esse algo doce é algo que eu posso proporcionar. O amor. Paixão. O desejo de amar desses mortais é inebriante, sufocante. Tenho que me controlar muito para não ceder a essa vontade, para não intoxica-los com minha doçura.
Mas esse é um tópico para outro momento.
Agora, eu preciso tomar café da manhã, pois aqui, Ambrosia é comprada no Empório Santa Luzia, na Alameda Lorena, e vem em vidros lacrados. Aliás... bem melhor do que servida pela Hebe (não a Hebe da TV... que não tem nada a ver com a Hebe que nos servia no Olimpo).
Bem... só sei que o Olimpo pode ser a chatice que for (não estou contando noites de festa, ou comemorações) mas tem uma vantagem diante desta terra: não alaga.
Uma das coisas que mais percebo é como cai água do céu sobre essa cidade. E como pode alagar tanto. Outra coisa que percebi logo que cheguei é que os mortais realmente gostam de seus carros. Bem, eu também gostaria se minha vida dependesse de entrar dentro dos coletivos gigantesco, entulhados de pessoas que se espremem, e que a maioria dirige-se para um lugar que detestam executar um trabalho que execram, somente pelo vil metal, que em muitos casos serve somente para que eles sobrevivam, não vivam. Ei, não estou aqui para julgar. Cada um com seus problemas. Ser bela e antropóloga é o meu. Ser mortal e pobre, o de todos os outros.
Mas, voltando ao tópico, o Olimpo não alaga. Zeus não permitiria jamais ver seu lar, pelo qual é responsável alagando.
Outra constatação: a Grécia nunca alagou, apesar de todos saberem que Poseidon não se incomodaria nem um pouco se isso acontecesse. Mas Zeus não permitiria pelo simples fato que a beleza de sua terra feneceria, e todo o seu povo daria mais trabalho para ele. As mulheres perderiam sua beleza e os homens, seu vigor. Um povo cansado, com sua auto-estima reduzida, é um povo quase derrotado. Fraco. Corruptível.
Por isso não entendo qual a vantagem de permitir que a cidade alague. Não é um desastre natural, como acontece em alguns locais do mundo. É um problema pontual. O equivalente a Zeus dessa cidade simplesmente não vê o que acontece com seu povo.
Repito: não estou aqui para julgar, cada um com seus problemas. Afinal, eu me teleporto e posso voar. E meu negócio é diversão.
Só que tem algo que perturba meu ser e minha ordem na condição da maioria dos mortais. A partir do momento que você tem um povo cansado, pobre, corruptível, você tem pessoas que buscam diversão em algo doce, que alivie as tormentas diárias e eleve a auto-estima. E esse algo doce é algo que eu posso proporcionar. O amor. Paixão. O desejo de amar desses mortais é inebriante, sufocante. Tenho que me controlar muito para não ceder a essa vontade, para não intoxica-los com minha doçura.
Mas esse é um tópico para outro momento.
Agora, eu preciso tomar café da manhã, pois aqui, Ambrosia é comprada no Empório Santa Luzia, na Alameda Lorena, e vem em vidros lacrados. Aliás... bem melhor do que servida pela Hebe (não a Hebe da TV... que não tem nada a ver com a Hebe que nos servia no Olimpo).
segunda-feira, 29 de março de 2010
Vida em São Paulo
"Os homens vão para cama com Gilda e acordam comigo", disse um dia Rita Hayworth, uma das deusas terrenas, se é que isso pode existir...
Comigo, não acontece isso. Não há decepção. Há somente paixão e morte... Ninguém merece.
Bem, essa foi uma apresentação sucinta de como minha vida era no Olimpo. Zeus e seus impulsos luxuriosos por tudo e todos. Juno com seu humor variando. Atenas só se diverte jogando xadrez... Os mortais trucidando outros pensando que eu sou a imagem da perfeição; tédio, fazendo um mortal se apaixonar por outro, mesmo sabendo que isso somente traria tragédias...
Não me divertia mais naquele lugar. Cansei.
E alguém, algum mortal... ou seria algum semi-deus, tipo Orfeus, que canta em todos os lugares, disse que essa cidade seria interessante de conhecer. E por isso vim. Desde então, acho que já faz uns 30 anos, eu simplesmente não consigo sair dessa cidade. Tudo pulsa, tudo vibra. Restaurantes vêm, vão. Cinemas vêm, vão. Casas noturnas vêm, vão, viram casas de prostituição, hotéis... É renovação pura!
Mas algumas coisas ficam; o que fica, pegue minha mão e vá conhecer. O que não fica, bem, tente conhecer antes que acabe, pois novidade que é novidade, é bom enquanto é novo.
E, depois que conheci, chamei Sapho, que sempre gostou de beleza e cultura e cansou-se da vida em Lesbos e em Paris, que ela já visitou milhares de vezes e precisava de ares novos para transpirar suas palavras de ouro.
E cá estamos... Um espresso após o outro.
Comigo, não acontece isso. Não há decepção. Há somente paixão e morte... Ninguém merece.
Bem, essa foi uma apresentação sucinta de como minha vida era no Olimpo. Zeus e seus impulsos luxuriosos por tudo e todos. Juno com seu humor variando. Atenas só se diverte jogando xadrez... Os mortais trucidando outros pensando que eu sou a imagem da perfeição; tédio, fazendo um mortal se apaixonar por outro, mesmo sabendo que isso somente traria tragédias...
Não me divertia mais naquele lugar. Cansei.
E alguém, algum mortal... ou seria algum semi-deus, tipo Orfeus, que canta em todos os lugares, disse que essa cidade seria interessante de conhecer. E por isso vim. Desde então, acho que já faz uns 30 anos, eu simplesmente não consigo sair dessa cidade. Tudo pulsa, tudo vibra. Restaurantes vêm, vão. Cinemas vêm, vão. Casas noturnas vêm, vão, viram casas de prostituição, hotéis... É renovação pura!
Mas algumas coisas ficam; o que fica, pegue minha mão e vá conhecer. O que não fica, bem, tente conhecer antes que acabe, pois novidade que é novidade, é bom enquanto é novo.
E, depois que conheci, chamei Sapho, que sempre gostou de beleza e cultura e cansou-se da vida em Lesbos e em Paris, que ela já visitou milhares de vezes e precisava de ares novos para transpirar suas palavras de ouro.
E cá estamos... Um espresso após o outro.
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