quarta-feira, 31 de março de 2010

Espelho, espelho meu...

Oprah Winfrey disse: "Finalmente percebi que ser grata ao meu corpo era a chave para eu me amar mais."

Eu sei que sou bela e sei que sou desejada. Isso pode ser uma faca de dois gumes. É bom, eu não nego. Sou alimentada pelo desejo alheio. E é esse desejo que me torna mais bela. E é o fato de eu me tornar mais bela que sinto necessidade de espalhar amor aos outros.

Sei que nenhuma mulher se equipara em beleza a mim, mas consigo reconhecer as que possuem minha influência em seus nascimentos. A constelação queimava no céu na data de nascimento de algumas mulheres, minhas filhas mortais, digamos assim.

Cachorros reconhecem-se cheirando os rabos um do outro. Neste caso, eu consigo ver os rabos masculinos (e alguns femininos, mais discretos) balançando impacientes por uma dose de atenção dessas mortais. Causa de discórdia, causa de briga entre as nações, como no caso de Helena de Tróia. E, por vezes, causa de amor eterno, basta um empurrãozinho.

O interessante é que por ser um jogo divertido, os cobiçadores entretem-se com a luta por chamar atenção. E é nesse jogo que eu encontro minha diversão. E é nesse ponto que sinto por Sapho.Ela sofre tanto por amor que fui obrigada a oferecer-lhe vida eterna, até quando ela quisesse, claro. E ela aceitou.

Poesia de Sapho:

"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)"

Ela escreveu essa quando percebeu que Atis, sua favorita em sua escola, estava apaixonada por um rapaz. Gosto de Sapho e amaldiçoei Atis por não ama-la como Sapho merecia. E nessa cidade, apesar de tudo, Sapho diverte-se e sofre por aqueles que não conseguem amar... sua produção de poesias aumentou intensamente, com tanta matéria-prima, mas ela não quer me mostrar nada ainda. Suas preferidas são aquelas que o amor acontece a primeira vista, ou quando não há reciprocidade na atração ou paixão.

E hoje, pensativa, penso se o amor seria somente motivado pela beleza... ou pelo fato de acharmos que amamos o que não podemos ter... até ter.

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