quinta-feira, 10 de junho de 2010

Nothing to fear...

Como escritora que sou acabei pegando uma mania de escrutinar as pessoas com muita meticulosidade... tentar adivinhar seus pensamentos e atos antes de serem cometidos. Sento em um café, em algum lugar e fico horas, fingindo ler, ou fingindo trabalhar no laptop quando, na verdade, estou observando as pessoas, e fazendo anotações do seu jeito e maneira de ser. Ao contrário de Venus que simplesmente sabe o que as pessoas pensam, eu tive o privilégio de ter o tempo ao meu lado e o uso para tentar reconhecer a alma humana tão logo eu veja uma pessoa. Aos poucos, aprendi que para você saber o que os outros pensam você precisa escutar seus próprios pensamentos e conhecer o seu próprio âmago. Sem isso, você não conseguirá jamais olhar para o outro e saber o que ele quer. Interessante esse paradoxo.

E, claro que tendo como meu sustento livros e escritos, preciso saber reconhecer os seres, para tornar as ações de meus personagens plausíveis. Por vezes, até vivo como meus personagens, para entender suas emoções, transformarem em minhas emoções e, portanto, seguir em frente com um trabalho dedicado aos outros.

Diferente das poesias e crônicas, que processo e filtro tudo com meus olhos, sem precisar me colocar no lugar de ninguém.

E, nesse processo de ser o outro para poder me encontrar, começo a entender o ato um de minha peças, mas sem deixar de me perguntar o quanto a humanidade por vezes se perde, chafurdando em sua própria lama, reclamando de sua própria vida.

Acordar, ir ao trabalho, permitir que um novo dia entre pelos seus olhos.

Interessante como o dia sempre começa com algumas obrigações, como espreguiçar, ir ao banheiro, lavar o rosto, as mãos, extrair remelas do tamanho de trens, escovar os dentes, tomar banho, senão tomou na noite anterior. Interessante como tudo tem seu motivo, tem sua explicação e como acreditamos piamente nesta explicação, nestes rótulos que colocamos em nós mesmos. Ler o jornal para abastecer o cérebro de argumentos em conversas e decisões para sua própria vida. A tortura de ler o jornal, ver os eternos sofredores sofrerem, ver os políticos rirem, mesmo quando choram, pois eles ganham qualquer que seja o jeito e, querendo ou não, ganhar é bom, pois com o ganho você elimina as perdas, ver a cultura afundando, ver o clima mudar, ver as guerras continuarem iguais, preconceito, extinção, mudando apenas os personagens desta peça suja que é o nosso próprio palco, o palco ao qual fazemos parte. Ver a saúde afundar, ver o céu desabar, ver surgirem novas doenças e pessoas morrendo com vacinas e isso simplesmente tira o oxigênio e parece que sufocamos no gás carbônico que tudo indica estarmos condenados.

Aliás, o mundo por vezes se desanima sozinho, se lambuzando em sua própria meleca. Ler o jornal e não ter vontade de mudar, ler e não demonstrar emoção... somos o quê? Máquinas? Ou estamos no estágio que de tanto apanhar não mais sentimos dor? Talvez.... amortecidos pela própria realidade. Amortecidos pela confusão de desconhecermos como agir, em grilhões de paralisia cerebral que nos permite pensar em nós, em nossas únicas vantagens, em nossa única realidade. Gritos mudos de socorro expressos em nossos olhos, mas nem ao menos sabemos que gritamos, nem ao menos sabemos porque temos que gritar... Sim, gritar para aliviar nosso coração. Não fazemos isso no metrô, não fazemos isso no ônibus, não fazemos isso com o chefe, não fazemos isso com os seres ao nosso redor, e mesmo quando fazemos não é um grito verdadeiro, para expressar nossa insatisfação com nossa única realidade, mas para extravasar nossa insatisfação com os outros, culpando-os por nossa realidade ser como é, sem nem ao menos cogitarmos que nós que fazemos nossa história, nós que fazemos nosso presente e que as consequências são oriundas de nosso atos que exigem seu preço. Preço!

E, mesmo assim, a gente encontra forças para continuar. Forças para viver... pelo prazer que é levantar de manhã e PODER pensar em tudo isso. De receber uma nova chance para mudarmos, para ajudar... para sentir que ser humano é estar intrinsicamente linkado com outro, sentindo a calidez de estar tão longe e tão perto... A esperança de que podemos ser mais e podemos fazer mais! Sonhos de sermos mais e podermos mais.

De novo, estou presa no paradoxo... um paradoxo que adoro... e acho que estou chegando lá... onde quer que lá seja!
E vamos voltar ao trabalho!!

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